A capa do novo clássico dos dinossauros |
Aqueles senhores mascarados como se tivessem sido
transportados de um filme de assalto a bancos não eram só integrantes de uma
banda de rock em busca de redenção. Não. Eram também dinossauros, pisando com
cuidado o palco Uniceub, no domingo 31 de agosto, no festival Porão do Rock em
Brasília.
Dinossauros. Os mesmos que achávamos estar
extintos. Não estão. Com o céu carregado como uma criança proibida pela
professora de ir ao banheiro fazer xixi, os senhores mascarados martelavam seus
instrumentos despejando a fúria de suas novas canções sem que ninguém na
multidão que se aglomerava em frente ao palco tivesse chance de sequer um
respiro.
Pelas minhas contas foram cinco. Uma após outra.
Cinco das novas canções presentes no mais recente álbum Nheengatu atiradas como tijolos na fuça de todos os presentes. Sem
um boa noite, um oi, um nós somos os titãs e
vamos tocar algumas músicas pra vocês. Nada. Apenas a fração mínima de
tempo e espaço para a contagem seca de três baquetadas entre elas.
Téc, téc, téc.
Foi só depois dessa avalanche sonora, já sem as
mascaras de assaltantes de banco, que se teve culhões em quantidade suficiente
para a execução da seminal “Polícia”.
Não precisava mais nada. Paleontólogos, se lá estivessem, arrisco que teriam
despejado lágrimas de excitação por estarem diante de uma entidade
pré-histórica da música brasileira. Que reação teriam, caso tivessem
testemunhado a execução de “Desordem”,
“Aa Uu” ou “Bichos escrotos”.
Talvez, pela lógica que se agigantava a cada
pausa, o bom senso de ouvir e conhecer esse tal Nheengatu não me deixou dormir aquela noite. Precisava dar uma chance para
esse novo trabalho. Entender as razões que fizeram com que aqueles senhores
achassem conveniente tocar dez das 14 canções que fazem parte da bolacha. Por
ousadia, quem sabe. Confiança, porque não?
Nheengatu é, em resumo, um disco essencial para qualquer
pessoa em sã consciência que se arrisque por aí com uma camiseta preta rogando
ao mundo a condição de roqueiro. É mais: é a esperança que existe alguma luz no
fim do túnel desse tal Rock n´Roll, mesmo que a caixinha de fósforos que a produziu tenha
caido do bolso de Tony Belloto ou Sérgio Brito numa madrugada regada à whisky barato. Aliás, só o que importa é que
depois de três audições seguidas, essa pequena obra de arte, soa tão clássica
quanto aqueles discos paridos na década de 1980.
Dinossauros existem. Eu os vi e não consigo mais
parar de ouvir suas músicas novas. Tente não viciar em “República dos Bananas”,
“Mensageiro da Desgraça” e “Cadáver sobre cadáver”.
Tente, duvido que vá
conseguir.
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