quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Eu vi dinossauros

A capa do novo clássico dos dinossauros


Aqueles senhores mascarados como se tivessem sido transportados de um filme de assalto a bancos não eram só integrantes de uma banda de rock em busca de redenção. Não. Eram também dinossauros, pisando com cuidado o palco Uniceub, no domingo 31 de agosto, no festival Porão do Rock em Brasília.

Dinossauros. Os mesmos que achávamos estar extintos. Não estão. Com o céu carregado como uma criança proibida pela professora de ir ao banheiro fazer xixi, os senhores mascarados martelavam seus instrumentos despejando a fúria de suas novas canções sem que ninguém na multidão que se aglomerava em frente ao palco tivesse chance de sequer um respiro.

Pelas minhas contas foram cinco. Uma após outra. Cinco das novas canções presentes no mais recente álbum Nheengatu atiradas como tijolos na fuça de todos os presentes. Sem um boa noite, um oi, um nós somos os titãs e vamos tocar algumas músicas pra vocês. Nada. Apenas a fração mínima de tempo e espaço para a contagem seca de três baquetadas entre elas.

Téc, téc, téc.

Foi só depois dessa avalanche sonora, já sem as mascaras de assaltantes de banco, que se teve culhões em quantidade suficiente para a execução da seminal “Polícia”. Não precisava mais nada. Paleontólogos, se lá estivessem, arrisco que teriam despejado lágrimas de excitação por estarem diante de uma entidade pré-histórica da música brasileira. Que reação teriam, caso tivessem testemunhado a execução de “Desordem”, “Aa Uu” ou “Bichos escrotos”.

Talvez, pela lógica que se agigantava a cada pausa, o bom senso de ouvir e conhecer esse tal Nheengatu não me deixou dormir aquela noite. Precisava dar uma chance para esse novo trabalho. Entender as razões que fizeram com que aqueles senhores achassem conveniente tocar dez das 14 canções que fazem parte da bolacha. Por ousadia, quem sabe. Confiança, porque não?

Nheengatu é, em resumo, um disco essencial para qualquer pessoa em sã consciência que se arrisque por aí com uma camiseta preta rogando ao mundo a condição de roqueiro. É mais: é a esperança que existe alguma luz no fim do túnel desse tal Rock n´Roll, mesmo que a caixinha de fósforos que a produziu tenha caido do bolso de Tony Belloto ou Sérgio Brito numa madrugada regada à whisky barato. Aliás, só o que importa é que depois de três audições seguidas, essa pequena obra de arte, soa tão clássica quanto aqueles discos paridos na década de 1980.

Dinossauros existem. Eu os vi e não consigo mais parar de ouvir suas músicas novas. Tente não viciar em “República dos Bananas”, “Mensageiro da Desgraça” e “Cadáver sobre cadáver”

Tente, duvido que vá conseguir. 

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