segunda-feira, 24 de novembro de 2014

10 vezes Rrummm


Quando ela começou a falar sem parar, por um instante hesitei tentando entender as razões daquele sermão.

Observei e não só isso. Deliciei-me com seu bombardeio.

Sim.

Eu, se pudesse, deixaria que ela falasse e me xingasse, daquele jeitinho, por horas.

No máximo, faria algum esforço para controlar o riso e o acelerar descompassado das batidas cardíacas, aquela altura tomadas de uma excitação juvenil.

- Quem é essa morena de covinha no queixo?

Há muito não assistia uma cena de ciúmes tão bela.

Tão excitante.

Se já não lembro com exatidão as palavras usadas por ela. Lembro-me da boca abrindo e fechando com suavidade, dos olhos franzidos, do dedo indicador em riste e, claro, daquilo que é tão dela:

- Rrummm.

Pois ela, a ruiva de óculos de armação, eternizada em crônica – fantasiada dediabinha – me fuzilava com uma sequência fulminante de cobranças, de queixumes, como se só ela pudesse existir no meu mundo ficcional.

Ah, regozijo-me de prazer, novamente, só de lembrar.

E que fique claro, não foi apenas um ou dois, foram mais de dez, ao menos até onde contei. Dez rrumms.

Dez.

Assim:


Rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm.

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